Paulo Henrique Souza Silva

Sociólogo(UFPA),Especialista em Desenvolvimento de Áreas Amazônicas(NAEA-UFPA),Mestre em Educação, com ênfase em Investigação Educativa pela Universidad Católica Nostra Señora de la Asunción- PY e Doutorando em Ciências da Educação pela Universidade Autonôma de Assunção (UAA).

16/09/2010

A Sombria e a Lenta Agonia do Campus da Uepa em Igarapé-Açu


O processo de produção do conhecimento científico na era moderna e contemporânea se dissociou do prazer pelo desenvolvimento intelectual e científico.  Esse fenômeno não foi natural, nem uma criatura da cristandade e nenhum fetiche da sobrenaturalidade.  O conhecimento científico como enuncia Foucault em As Coisa e as Palavras, fundado na Máthêsis Universal primeiramente foi reordenado e as forças produtivas dialeticamente passaram a ser reordenadas, um processo cognitivo e atitudinal simultâneo.
A dimensão conjuntiva entre conhecimento científico e modo de produção e societário capitalista exigiu e assegurou o desenvolvimento acelerado de centros de pesquisas, de excelências e de Universidades tanto nas sociedades desenvolvidas como nas de desenvolvimento associado. Simultaneamente, o modo de produção do conhecimento científico corroborou como o modo de produção do capitalista em torná-lo mais efetivo, eficiente, eficaz como objetivo de minimizar os investimentos em força de trabalho, capital variável (cv) e maximizando seus lucros (mais- valia) através de massivos, concentrados e centralizados investimentos em capital constante (capital circulante: energia e matéria prima e capital permanente: instrumentos, equipamentos e aparatos tecnológicos), cumprindo-se o prognóstico em que no O Capital, Marx descreveu e analisou como alteração da composição orgânica do capital (COC). Na perspectiva internalista e continuísta de conhecimento cientifico com assinala o Sociólogo Uruguaio, Havier Cabellero Nuhman , as ciências fundadas  Máthêsis Universal e na inteligência lógica e matemática, passou a integrar o pensamento revisionista e reformista tanto do conhecimento científico como da reestruturação do capitalismo e do paradigma societário.  Assim, o conhecimento científico deixa de ser algo prazeroso e passa a integrar e a compor o interesse do capital.
Aproximadamente há 15 anos por pressões dos educadores, intelectuais, movimentos sociais como frações integrantes da sociedade civil sobre as classes hegemônicas e dirigentes na sociedade igarapeaçuense e paraense é institucionalizado um dos Campus da Uepa sem uma discussão mais ampla e profunda com os frações que lhe reivindicaram. Com isso, as classes hegemônicas e dirigentes reconfiguraram as reivindicação aos seus interesses. Tanto que o Movimento Interbrasileiros para Desenvolvimento da Amazônia- VIBRA JOÃO XXIII, asfixiado por sua sociopátia e pelo colapso de seus ideais e de seus projetos megalomaníacos, cede sua estrutura e instalações para o funcionamento do Campus da UEPA, e em contrapartida, coincidência ou não, um de seus Conselheiros é nomeado Coordenador do Campus sem processo eleitoral e sem pertencer aos quadro de Professores Titulares ou Substitutos da Uepa.
O curso que brinda a Uepa em Igarapé-Açu foi o de Engenharia de Produção. Disponibilizado e implantado verticalmente sem estudo e observância as singularidades do desenvolvimento regional. Um curso que veria atender as exigências das forças produção e do mercado externo e não da dinâmica relacional de desenvolvimento regional específico e determinado. A gênese do Campus da Uepa em Igarapé- Açu trouxe esses problemas.
A posteriori, percebeu-se que se abriram turmas nos cursos de Licenciaturas de Formação de Professores, Matemática e de Pedagogia e não mais de Engenharia de Produção. Este curso gradativamente foi sendo esvaziado e não sendo maisofertadas vagas nos anos subsequentes. Predominando assim os cursos de Licenciaturas como pressuposto para assegurar relativamente o cambio da qualidade da educação, que por sinal não se confirmou, por conta da crise de percepção de mudança de qualidade da educação pelo reducionismo da elevação da qualificação de profissionais licenciados desarticulado de uma concepção de educação, de um paradigma de educação, de uma plano diretor de educação, da participação da sociedade civil, de um programa de educação permanente, das melhorias estruturais na educação, da definição de uma política salarial aos educadores, de ações educativas pertinentes, monitoradas e avaliadas  e de indicadores qualitativos e quantitativos pactuados e definidos.  
Além da crise de percepção caracterizada pela unilateralidade dos cursos de Licenciaturas que animaram o “messianismo pedagógico” na sociedade Igarapeaçuense como enuncia Wagner Rossi em Capitalismo e Educação, correlacionam-se as parcas bolsas de iniciação científica aos acadêmicos das licenciaturas e a insuficiência de comunicação dos resultados das pesquisas. Aspectos que levam a formular as seguintes indagações: Como se estabelecem a relação entre as pesquisas acadêmicas educativas e a sua comunicação à sociedade? Qual a contribuição que as pesquisas dos cursos de licenciaturas estão trazendo para o aporte de conhecimento científico e à sociedade civil ou mais precisamente à educação? Por que os resultados da produção do conhecimento acadêmico estão caminhando nas tábuas lisas do silêncio,  da solidão e nos confinamentos no Campus? 
Além da problemática da comunicação dos resultados das produções acadêmicas e as parcas bolsas de iniciação cientifica, soma- se a não oferta de vagas para o curso de Matemática. A comunidade acadêmica e a sociedade civil igarapeaçuense foram surpreendidas pela decisão da Reitoria da UEPA de não ofertar mais vagas ao curso de Licenciatura em Matemática. Esta decisão é paradoxal, uma vez que houve investimento na construção na estrutura do próprio prédio da Uepa em Igarapé-Açu. Como explicar esse investimento diminuindo a oferta de vagas no curso de Licenciatura em Matemática e a oferta de cursos.
A decisão administrativa da Reitoria da Uepa apesar de expressar a autonomia da Universidade não se justifica, uma vez que a autonomia universitária não pode se sobrepor ao princípio da universidade e ao desenvolvimento intelectual de uma sociedade. Decisão tomada com base nas “camisas de forças” dos parâmetros administrativos, orçamentários e ficais que inobservou a participação da sociedade civil e o processo situacional dos Municípios que integram o Campus X. Seus resultados só serão percebidos como a dinâmica do tempo e que podem ser hipotetizados em: desnivelamento à cultura acadêmica e científica, criação de um hiato-cultural e pedagógico no processo educativo, redução no quantitativo e na qualidade intelectual, redução na pesquisas acadêmicas voltadas à particularidade regional e local, retração taxa da população com nível superior, retração na mão de obra qualificada para educação e impactos desfavoráveis sobre o processo educativo.
A sociedade igarapeaçuense é o segundo Município com 3% de maior taxa bruta de freqüência ao ensino superior na Bragantina, ficando apenas trás de Capanema que de 6%, conforme dados do Atlas de Desenvolvimento Humano.  A retração na oferta de vagas ao curso de Licenciatura de Matemática e em outros cursos representa uma contribuição à redução da taxa de freqüência ao ensino superior, tanto em Igarapé-Açu com nos Municípios que se encontram como acadêmicos cursando no Campus X da Uepa.
A questão não se limita apenas a redução da oferta de vagas nos cursos de Licenciaturas. Percebeu-se ao longo deste aproximadamente 15 anos de Uepa em Igarapé- Açu um processo gradativo de reduzir turmas o que leva a crer na hipótese de fechamento das atividades acadêmicas do Campus X e reforçar o Campus de Castanhal. Assim, a sociedade política e a sociedade civil local e regional devem celebrar um pacto pela continuidade e expansão com qualidade acadêmica do campus X da Uepa e pelo seu estreitamento ao modelo de desenvolvimento social. Pois, o referido é patrimônio da sociedade não de um grupo de iluminados que integram a Reitoria ou as frações sectárias do movimento acadêmico-estudantil.  O movimento por sua permanência e pela sua qualidade permanente tem que ter como fundamento da radicalidade democrática como destaca Alexis Toqueville e ancorá-lo ao princípio do pluralismo de idéias e de atitudes e na liberdade de expressão. Perifraseando com o Sociólogo Zygmult Bauman, não devemos construir movimentos e campus universitários líquidos e nem lideranças estéreis que necessitam manter a qualquer preço seus seguidores numa cega fidelidade como enuncia Cornelius Castoriadis na As Encruzilhadas do Labiorinto.

 

 
    

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Igarapé-Açu, Pará, Brazil
Sociólogo(UFPA),Especialista em Desenvolvimento de Áreas Amazônicas(NAEA-UFPA),Mestre em Educação, com ênfase em Investigação Educativa pela Universidad Católica Nostra Señora de la Asunción- PY e Doutorando em Ciências da Educação pela Universidade Autonôma de Assunção (UAA).